2011-09-01

NICOLAS FLAMEL (f. 1418) - Alquimista


O mais enigmático alquimista parisiense
do Séc. XIV

Nicolas Flamel (f. 1418)
Estampa feita a partir da existente nos
Archives Municipales de Pontoise, Séc. XVII

    NICOLAS FLAMEL (1330?, Pontoise - 1418, Paris), nasceu em Pontoise entre 1330 e 1340. Após a morte de seus pais foi viver para Paris e aí trabalhou como escrivão público, copista e livreiro da universidade, tendo acumulado uma grande fortuna devido ao êxito na gestão dos seus negócios, segundo alguns dos seus biógrafos; ou por ter descoberto a Pedra Filosofal que lhe permitia transmutar metais em ouro, segundo outros.
Edição moderna de
«Le Livre des figures
 hiéroglyphiques», 1612.

    Vários estudiosos e ocultistas posteriores atribuíram à sua autoria diversos tratados alqumicos muito antigos que terão ficado manuscritos até bastante tarde, o mais célebre dos quais foi «Le Livre des figures hiéroglyphiques» publicado em 1612, no qual o seu autor conta como se tornou muito feliz ao adquirir em 1357 um antiquíssimo manuscrito de Abraham “o Judeu”, o qual continha diversos textos e enigmáticos desenhos alegóricos que ele passou a decifrar e eram uma espécie de cabala e alquimia. Este livro relatava os processos da Grande Obra, sem contudo revelar qual era a matéria-prima.

Alquimista
  São-lhe ainda atribuídos «O Livro das Figuras Hieroglíficas» (1399), «O Sumário Filosófico» (1409), e o «Saltério Químico» (1414), entre outros. Alguns destes manuscritos estão conservados na Bibliotèque National (referências: fr. 19075, e fr. 14765), e na Bibliothèque de l’Arsenal (referências: n.º 2518, e n.º 3047).

   Por volta de 1364 casou com uma abastada viúva de nome DAME PERNELLE (?-1397), falecida em 1397. Este matrimónio deu-lhe a possibilidade de se dedicar à alquimia a partir de 1380, conseguindo a fazer a transmutação alquímica alguns anos depois, segundo os seus biógrafos.

Saint-Jacques-de--la-
-Boucherie (demolida)
  Flamel viria a falecer a 22-III-1418, após ter feito um testamento com numerosas doações pias e foi sepultado Igreja de Saint-Jacques-de-la-Boucherie, sob uma pedra tumular contendo enigmáticas gravuras e uma inscrição que ele próprio mandou fazer, a qual estava colocada junto a um pilar com uma imagem da Virgem. Esta igreja foi destruída após a revolução, por volta de 1797, tendo apenas sobrado a torre sineira. A pedra tumular foi parar às mãos de um vendedor de frutas e legumes que a utilizava como balcão de mercado para expor os seus produtos, local de onde foi resgatada por um antiquário parisiense em 1839 para ser depositada no Musée de Cluny onde se encontra actualmente exposta.
  
Torre de Saint-Jacques (1865)
    Após a sua morte, com mais de 80 anos, a sua casa foi saqueada por gente ávida por encontrar a pedra filosofal ou pelo método da sua obtenção. Segundo a lenda, Flamel e Perrenelle não morreram e nas suas tumbas foram encontradas apenas as suas roupas em lugar de seus corpos. Eles teriam vivido graças ao elixir da longa vida que Flamel também teria fabricado.

   Os avultados bens deste casal eram constituídos por muitos terrenos e prédios urbanos de rendimento, nos quais foram investindo o seu dinheiro, do qual também gastaram avultadas somas na construção e reparação de hospitais, igrejas, casas para indigentes, e cemitérios, assim como no embelezamento de diversos monumentos religiosos.

     Durante a sua vida já se sabia que a sua fortuna era considerável, mas, aquando da sua morte, o espanto foi geral ao saber-se pelo testamento a sua verdadeira grandeza.

Portal de Saint-Jacques-de-la-Boucherie
(gravura)
    Nicolas Flamel revestiu de hieróglifos as diversas edificações que levantou em vários locais de Paris.
   O Abbe Vilain, sacerdote de Saint-Jacques-de-la-Boucherie (1758), informa-nos que o pequeno portal desta igreja foi mandado executar em 1389 por Flamel que o cobriu de enigmáticas figuras.. «No umbral ocidental do portal, vê-se um pequeno anjo esculpido que tem nas mãos um círculo de pedra, no qual Flamel mandou encravar um disco de mármore negro com um filete de ouro fino em forma de cruz …» (Histoire critique de Nicolas Flanel. Paris, Desprez, 1761)O doador Flamel e sua mulher estão representados ajoelhados.

    Os pobres de Paris ficaram a dever à sua generosidade duas casas que edificou na Rue du Cimitiére de Saint Nicolas-de-Champs: a primeira em 1407, a outra em 1410. Estes imóveis apresentavam, segundo relatos posteriores, «grande quantidade de figuras gravadas nas pedras, com um «N» e um «F» góticos de cada lado».
    A capela do Hospital Saint-Gervais, reconstruída a expensas suas, nada tinha que invejar às outras construções. «A fachada e o portal da nova capela, escreve Albert Poisson , eram cobertas de figuras e de legendas à maneira usual de Flanel». 

  O portal de Sainte-Geneviève-des-Ardents, situada na Rue de la Tixerandrie, conservou o seu interessante simbolismo até meados do século XVIII, época em que foi transformada em casa e os ornamentos destruídos.

Cimitiére des Saint-Innocents
(desaparecido)
  Flamel levantou ainda duas arcadas decorativas com figuras hieroglíficas no Cimitiére des Saint-Innocents: a primeira em 1389; e a segunda em 1407. Poisson diz-nos que na primeira delas se via entre outras placas hieroglíficas, um escudo que o Adepto «parece ter imitado de outro atribuído a S. Tomás de Aquino». O célebre ocultista acrescenta que ele figura no final da «Armonie Chymique» de Lagneau. Eis, aliás, a descrição que dele nos oferece: «O escudo está dividido em quatro por uma cruz; esta tem no meio uma coroa de espinhos em quatro por uma cruz; esta tem ao meio uma coroa de espinhos encerrando, no centro, um coração sangrando de onde se eleva uma cana. Num dos quadrantes vê-se IEVE em caracteres hebraicos, no meio de uma profusão de raios luminosos, por baixo de uma nuvem negra; no segundo quadrante, uma coroa; no terceiro, a terra está coberta por uma ampla seara, e o quarto é ocupado por globos de fogo».
Arca decorativa mandada fazer por
Flamel no Cemitério dos Inocentes
com a representação dos doadores
(gravura)
     Esta relação, de acordo com a gravura de Lagneau, permite-nos concluir que este fez copiar a sua imagem da arcada do Charnier. Não há nisso nada de impossível, visto que, de quatro placas, restavam três no tempo de Gohorry (1572?) e a «Harmonie Chymique» foi publicada em 1601 por Claude Morel

Arcadas do Cemitério
dos Inocentes.
    Este interesse por edificar portais de igrejas deve-se ao facto de aí poder gravar na pedra o seu retrato como doador, assim como, através dos hieróglifos que neles mandou inscrever, transmitir alguns conhecimentos (segredos) alquímicos à posteridade.

   Segundo alguns autores, a sua fortuna ficou a dever-se ao seu interesse pela aquisição imobiliária em mau estado de conservação, a qual posteriormente valorizava com obras de beneficiação e alugava. Segundo outros, o seu enriquecimento deve-se à Alquimia que praticou e "publicitou” em subtis hieróglifos com os quais foi decorando as paredes das sua propriedades hoje desaparecidas, à excepção da sua última casa que ainda subsiste no 51 da rue de Montmorency, a qual é uma das mais antigas edificações de Paris.


A Casa de NICOLAS FLAMEL
 (Rue de Montemorency, Paris)
Laboratório alquímico com o respectivo
Athanor.
  No n. º 51 da Rue Montmorency, perto da esquina da Saint-Martin-Larue, onde Flamel possuía diversas casas, situa-se uma das mais antigas habitações de Paris que é conhecida como a "Casa de Nicolas Flamel" (1407). Constituída pelo piso térreo com uma fachada que ostenta três portas e duas janelas, assim como mais quatro pisos, cada um deles com duas janelas rectangulares. Sob a casa há adegas abobadadas (o presumível laboratório alquímico com o respectivo Athanor?), e nas traseiras um quintal.

Paris, Casa de Nicolas Flamel.




Paris, Casa de Nicolas Flamel (piso térreo).



  Actualmente só conserva a fachada do piso térreo num estado próximo do original. Os dois últimos pisos superiores foram muito alterados face a uma gravura antiga na qual se vêm duas altas chaminés laterais, tendo as escadas interiores sido mudadas de posição. Está decorada, na fachada do andar térreo, com uma série de gravuras e inscrições que um criterioso restauro trouxe à luz do dia. Sabemos, segundo relatos existentes, que desapareceu um painel de pedra esculpida no primeiro piso, o qual foi substituído em 1900 por uma inscrição destinada a recordar o fundador Nicolas Flanel. O piso térreo, muito modificado no seu interior, actualmente abriga um pequeno restaurante.

Casa de N. Flamel, Placa de 1900.
Paris, Casa de N. Flamel (piso térreo).





   Estas inscrições e hieróglifos, raros de encontrar em casas da Idade Média, despertam para a sua decifração o interesse dos ocultistas e alquimistas posteriores, os quais as interpretaram como subtis alusões à Grande Obra Alquímica de que Flamel e sua mulher Perenelle seriam Adeptos.

  Por disposição testamentária, após a sua morte em 1418, esta casa foi legada à paróquia de Saint-Jacques com o objectivo de ser transformada em asilo para os pobres, finalidade esta que nunca foi cumprida.


Casa de N. Flamel (Séc. XVIII)

Casa de N. Flamel,  figuras hieroglíficas.





Casa de N. Flamel, figuras hieroglíficas.













Casa de N. Flamel,
figuras hieroglíficas
.
(com um «P» de Pernelle)
Casa de N. Flamel,
figuras hieroglíficas
.
(com um «N» de Nicolas)












Casa de N. Flamel,
figuras hieroglíficas.
Casa de N. Flamel,figuras hieroglíficas.







A Tumba de NICOLAS FLAMEL
Pedra sepulcral de N. Flanel,
actualmente no Musée de Cluny.
  A enigmática pedra sepulcral, feita por ordem do seu destinatário ainda em vida, tinha por objectivo perpetuar a sua memória. Porém o destino traíu-o, pois, a Igreja de Saint-Jacques-de-la-Boucherie onde se encontrava e da qual Flamel foi o maior doador, tanto em vida como por disposições testamentárias, acabou por ficar em mau estado de conservação e foi destruída após a revolução francesa. A pedra tumular andou muito tempo perdida, até que em 1839 foi resgatada para o Musée de Cluny, onde se encontra.

  Esta pedra tem na parte superior uma janela onde se vê um enigmático conjunto de três personagens em busto, cada uma coroada por uma auréola e, entre elas figura o Sol Radiante e a Lua. Uma dos objectivos da alquimia é o chamado casamento alquímico entre Sol (ouro) e Lua (prata), símbolos da eterna dualidade que possibilita a criação e a vida.
A figura central ostenta na sua mão esquerda um globo crucífero que, aparentemente, tem um duplo significado: símbolo do mundo, numa leitura simplificada, ou a nível espagírico e esotérico simboliza o antimónio (alquímico), correspondente à penúltima etapa em busca da pedra filosofal (ouro alquímico).
Pedra sepulcral de N. Flanel.
(inscrição)

  À direita da figura central, um homem transporta uma chave, o que pode simbolizar São Pedro, ou a outro nível simbólico mais oculto símboliza a fidelidade e a discrição do Adepto da arte alquímica, abrindo caminho para o conhecimento.
  À sua esquerda outro homem tem na mão uma espada e representa Saint Jacques o patrono da igreja onde foi enterrado Flanele, santo este que era considerado o sucessor cristão de Hermes Trismegistus (três vezes grande) para os alquimistas medievais.

  O Saint Jacques da devoção de Flamel nada mais era do que São Tiago Maior sepultado em Santiago de Compostela (Campus Stella - Lucal de Luzes), pelo qual os alquimistas e místicos medievais tinham grande devoção. Estes demandavam o túmulo do apóstolo fazendo inúmeras paragens durante o trajecto, procurando a sabedoria guardada nos mosteiros que eram fonte inestimável de acesso e troca de conhecimento, por via do misticismo judaico e árabe que sobrevivia na Espanha daquela época.

 É este o simbolismo oculto que escapa das inúmeras gravações alegóricas feitas ás ordens de Flanelle, quer nas obras em pedra que mandou executar, quer nas gravuras manuscritas que ele próprio fez ou copiou de outros textos mais antigos, que segundo os adeptos da alquimia nos permitem penetrar nos mistério da Grande Obra.

  Este tipo de mensagens ocultas também ficaram perpetuadas nos inúmeros baixos-relevos que decoram a Catedral-de-Notre-Dame-de-Paris, os quais não cabe aqui explanar. Este modo velado de transmitir conhecimentos tem por fim a sua divulgação apenas aos adeptos interessados (só eles podem levantar este véu), ocultando do público em geral um segredo que, se divulgado abertamente, iria perturbar a harmonia de qualquer sociedade...

  Aqui deixamos esta história medieval para avaliação do leitor amigo, sem querermos fazer julgamentos, pois, da história e da riqueza dos povos também fazem parte estes mitos…


A ALQUIMIA
A Alquimia,  baixo-relevo do grande pórtico
 de Notre Dame de Paris.
  O alquimista não procura novos fenómenos, ao contrário da ciência moderna, mas antes tenta reencontrar um antigo segredo que é inacessível para a maioria.
    Ela não procura apenas a transmutação de qualquer metal em ouro, mas acima de tudo uma maneira diferente de ver o mundo. Não separa o material do espiritual, pois na realidade tudo é uma coisa só, uma unidade, o ser humano. A transmutação da matéria e do espírito, na alquimia, ocorrem ao mesmo tempo.
   A figura sentada numa cadeira, tem numa das mãos os livros da sabedoria, na outra o ceptro e apoiada no seu peito a escada que, tal como a escada de Jacob, permitirá chegar à esfera do conhecimento divino.





2010-04-21

Cabeça de Velho - Convento de Cristo, Tomar


Tomar, Janela do Convento de Cristo.
Tomar, Janela do Convento de Cristo.
Pormenor / Cabeça de Velho.


























CABEÇA DE VELHO ENCIMADA POR UMA RAIZ
Janela do Convento de Cristo em Tomar

(1160-1515)

Esplêndida figura de velho que perscruta e interroga o observador, desafiando-o para a resolução do arcano que ele próprio propõe...
A alegoria hermética “sustentada” por este velho filósofo, vergado sob o peso de uma raiz (parte enterrada – ou oculta – de qualquer coisa!), sugere a leitura cabalística desta mensagem. 

Na “Ave Regina” a Virgem é chamada Raiz (Salve Radix) para marcar que ela é o princípio e o começo de tudo: “Salve, raiz, pela qual a Luz brilhou sobre o mundo” — ou “Deus Vos salve, raiz e porta por onde veio a luz ao mundo” —, oração muito popular datada de 1050 da autoria de Hermannus Contractus (1013-1054), monge beneditino da Abadia de Reichenau (ilha do Lago Constança).

As várias ramificações da raiz – sete – nada mais são do que os sete graus do conhecimento iniciático, e as sete virtudes (Caridade, Esperança, Fé, Força, Justiça, Prudência, Temperança). 

Não deixes que a cegueira te atinja face ao enigma proposto pela Janela de Tomar, alegoria da passagem – através dela – para o Conhecimento …

Foram os Templários – transfigurados na Ordem de Cristo – que a edificaram.
São eles os guardiães do arcano para atingir o conhecimento absoluto – a Luz. 

  Decifra o enigma aqui proposto…
  Se conseguires ! …


                        Tomar, Convento de Cristo.

                                João Trigueiros


  

Tomar, Convento de Cristo.




Chant of the Templars - Salve Regina:

https://www.youtube.com/watch?v=IoSuyUFiEYo







2010-04-13

Pátria

No sangue que nos flui
secretamente
do coração
está a força que nos une
a um povo
disperso
e longe desta pátria

Aqui estamos pois
neste desgosto
ao leme
do rumo certo
que te liberta enfim
querida Pátria.


J.T. - 23-Abr-73

Rumo

Avançar cada vez mais
sem hesitações.
Comunicar a todos a verdade
que se esconde.
Dizer não às traições
vencer barreiras.

Sonhar!
Sonhar num amanhã:
Livre
       sem guerras
               sem fronteiras ...


J.T. - 22-Abr-73



na minha esperança clandestina
houve sonhos esmagados num isntante
e lábios
súbito oxidados
na beleza do silêncio vigilante.


teci na teia dos meus sonhos
o teu corpo
de subtil espuma
inventado na confusão dos beijos
logo desfeito
           como se fosse bruma...


J.T. - 10-Maio-1973

2010-04-10

Fémina

Sonho o abismo
que transponho
no teu olhar
suave
como a chuva
a ponte
linguagem surda que tu ouves:
                                        o voo.

No sonho invento
as tuas mãos
que beijo
nas minhas mãos de nada.


J.T. - 10-ABR.-75

Epopeia

Nesta ilha
de silêncio
faço da minha voz
a quilha
que corta
esse mar imenso.

Imergido dos mitos
deste sono
secular
íntimo da indiferença
e do abismo
deste mar.

E nele esta marinha
trágica epopeia
de nautas férreos
a construir na areia
sonhos
e Impérios.

Pobres anfíbios
neste oceano
especulando
a fé
a troco de quimeras
e bancos de coral.

E as marés
sucedem-se
a medo
na geografia insular
deste silêncio
         que é degredo...

J.T. - OUT.-73

Retratos


Pasmo
na paz de pranto
à força imposta
no sono obstinado
desta gente
qual carneirada mansa
ao matadouro conduzida ...

Que venal toga esta
já puída
na busca
de parágrafos com fugas
às leis
expressas nos artigos.

Que indecorosa cátedra
e arqueológicos processos
de avaliar
inteligência a metro
no gesto obsoleto
de recitar sebentas
e tretas...

Que literatos estes
compondo ócios
em prosa e verso
e disputando
a dente
a glória
de conquistar um osso.

Que sotainas
sorrateiras
especulando a morte
na elegância
da retórica
rendoso investimento
nesta ignorância…

Políticos
venais
chupando o úbere
do tesouro
sugando-nos o sangue
esbulhando tudo
delapidando o ouro … …

J.T. - JUN-73

Misses e Mitos


No palco
o gado bamboleia
as ancas
e o nojo
na aridez das formas
poliglotas.

É medido a palmos
e o cio
dos aprumos
saboreado
no mole gosto
da língua salivando.

Em loucas cortesias
tomam-lhe o peso
ponderam-lhe o bojo
e a carne
na fraude consumada
de uma sesta.

Comparam-lhe os cascos
a implantação do ventre
as formas
de animais paridos
e duvidosos
na aridez dos tempos.

Da geografia das tetas
a litro avaliada
aprende-se o caminho
como quem tacteia
num violino
as tretas dos acordes.

O júri ocioso
tecido numa teia
mastiga bem de leve
suspira mais que nunca
e patenteia
a pequenez do cérebro.

Elege a misse
a rainha
e no mundo
a deita
durante um ano

para que fique prenhe !


J.T. - 3-MAIO-73

Terra que Habito



Pedaço desprezível de matéria
feita de mitos e de metas
por deuses e homens
bem urdidos
em incestuosos coitos
de imorais ascetas.

Pobre planeta …
Espécie de repelente bojo
onde pelas paredes
escorre o nojo
e se consome
na tela cómica de qualquer truão.


J.T. - 29-ABR.-73