2020-04-06

A QUEDA DOS ANJOS REBELDES (1720), alegoria mitológica à pandemia do Coronavírus/Covid-19, de Sebastiano Ricci (1659-1734)?


Sebastiano Ricci (1659-1734);
"A Queda dos Anjos Rebeldes (1720)


«A Queda dos Anjos Rebeldes» (1720), também conhecida por «A Queda dos Condenados», uma alegoria mitológica que para nós prefigura a metáfora do actual combate à pandemia do coronavírus/covid-19, o vírus chinês. Esta devastou o mundo espalhando a morte e o mal, mas acabou rechaçada pelo triunfo do bem [ciência].
O conteúdo desta obra, na mitologia cristã, reproduz a luta entre o bem e o mal e a consequente derrota e queda no inferno de vários anjos rebeldes (mostrengos demoníacos ao serviço de Satã) que se revoltaram contra as ordens do Criador. Estes foram expulsos do reino da Luz para o reino das sombras (Inferno) pelo Arcanjo Miguel ao serviço de Deus.
Este tema religioso foi repetidamente reproduzido por grande parte dos pintores antigos, inspirados numa passagem do Livro do Apocalipse (12: 2-9):
E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho [emblema nacional de China], que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas [representando o sistema político mundial que domina “tribos, povos, línguas e nações”; Apocalipse 13:1, 14, 15; 17:3].
E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra [destruição de 1/3 da terra] (…).
E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos [o vírus chinês];
Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus [foram rechaçados].
E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo [China?]; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.


Aquando da pintura «A Queda dos Anjos Rebeldes», no ano de 1720, iniciou-se em Marselha um grande surto de Peste Bubónica que veio a causar 100.000 mortos.



Sebastiano Ricci (Belluno, 1659 - Veneza, 1734) foi um dos mais importantes pintores venezianos de sua época. Distinguiu-se por pinturas de temas religiosos, mitológicos e históricos da antiguidade, operando dentro da estética barroca e rococó.
Sebastiano Ricci (1659-1734).
A sua juventude tempestuosa envolveu-o em acontecimentos dramáticos que o levaram à prisão (1678), da qual se veio a libertar pela intervenção de um nobre. Depois de solto casou-se e mudou-se para Bolonha onde deixou obra. Abandonou a mulher e a filha (1688) por se ter envolvido com a filha do pintor Giovanni Francesco Peruzzini (1629-1694) com quem fugiu para a cidade de Turim, onde foi novamente preso e quase executado, não fosse a intervenção do duque de Parma que lhe deu trabalho no seu Palácio Farnese em Roma. Com a morte do duque seu protector em 1694, acabou por fugir para Milão onde o conde Giacomo Durini o acolheu para decorar a Catedral de Monza. Posteriormente voltou para Veneza (1698) onde ficou por cerca de uma década a trabalhar intensamente, dela se afastando devido a trabalhos temporários: em 1701, um afresco da Ressurreição no Santi XII Apostoli em Roma, e em 1702 a sala de jantar do Palácio Schönbrunn em Viena de Áustria.
De 1706 a 1708, um dos períodos criativos mais importante de Ricci, foi para Florença onde pintou uma série de belíssimos afrescos no Palazzo Fenzi, cujo sucesso levou o grão-duque Ferdinando de Medici (1663-1713) a convidá-lo para decorar o seu Palácio Pitti.
Em 1708, já envolto pela fama da sua obra, voltou a Veneza onde operou intensamente.
O seu génio criador abriu-lhe as portas da Europa, tendo trocado Veneza por Londres onde pintou várias telas mitológicas para Lord Burlington, e para o conde de Portland, tendo ainda projectado vitrais para o duque de Chandos.
Em 1716 partiu para França onde foi admitido na “Académie royale de peinture et de sculpture” em 1718.
Por fim, talvez numa das fases menos irrequieta da sua vida pessoal, regressou a Veneza onde gozou o conforto que a riqueza adquirida lhe proporcionou.
Por esta altura trabalhou para diversas casas senhoriais da Península Itálica: decorou a villa de Giovanni Francesco Bembo em Belluno, assim como trabalhou intensamente para a Casa de Savoia em Turim (1724-1729), sendo então aceite na “Academia Clementina de Veneza”.
Foi um elemento-chave no desenvolvimento do estilo Rococó em Veneza, tendo sido reconhecido como um dos mais importantes pintores venezianos da sua época, tendo influenciado muitos outros artistas seus contemporâneos.
O período criativo mais importante de Ricci é seu tempo em Florença, de 1706 a 1708, e os três anos seguintes em Veneza. Nesse período da vida emergiu, entre outros, Vénus toma um ramo de Adónis, Madonna e Criança e Moisés salvos do Nilo. Ele foi então contratado por Lord Burlington (1694-1753) em Londres, para quem pintou as obras Cupido e Jove, Baco conhece Ariadne, Diana e Nymphs, Baco e Ariadne, Vénus e Cupido, Diana e Endymion, e Cupido e Floran. Seguiu-se outro trabalho encomendado antes que Ricci e seu sobrinho 1716 fossem de Londres a Paris. Agora, um homem rico Ricci retornou a Veneza em 1718, onde morreu em 1734.

                  João Trigueiros