O mais enigmático alquimista parisiense
do Séc. XIV
Nicolas Flamel (f. 1418) Estampa feita a partir da existente nos Archives Municipales de Pontoise, Séc. XVII |
NICOLAS FLAMEL (1330?, Pontoise - 1418, Paris), nasceu em Pontoise entre 1330 e 1340. Após a morte de seus pais foi viver para Paris e aí trabalhou como escrivão público, copista e livreiro da universidade, tendo acumulado uma grande fortuna devido ao êxito na gestão dos seus negócios, segundo alguns dos seus biógrafos; ou por ter descoberto a Pedra Filosofal que lhe permitia transmutar metais em ouro, segundo outros.
Alquimista |
Por volta de 1364 casou com uma abastada viúva de nome DAME PERNELLE (?-1397), falecida em 1397. Este matrimónio deu-lhe a possibilidade de se dedicar à alquimia a partir de 1380, conseguindo a fazer a transmutação alquímica alguns anos depois, segundo os seus biógrafos.
Saint-Jacques-de--la- -Boucherie (demolida) |
Torre de Saint-Jacques (1865)
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Os avultados bens deste casal eram constituídos por muitos terrenos e prédios urbanos de rendimento, nos quais foram investindo o seu dinheiro, do qual também gastaram avultadas somas na construção e reparação de hospitais, igrejas, casas para indigentes, e cemitérios, assim como no embelezamento de diversos monumentos religiosos.
Durante a sua vida já se sabia que a sua fortuna era considerável, mas, aquando da sua morte, o espanto foi geral ao saber-se pelo testamento a sua verdadeira grandeza.
Portal de Saint-Jacques-de-la-Boucherie (gravura) |
O Abbe Vilain, sacerdote de Saint-Jacques-de-la-Boucherie (1758), informa-nos que o pequeno portal desta igreja foi mandado executar em 1389 por Flamel que o cobriu de enigmáticas figuras.. «No umbral ocidental do portal, vê-se um pequeno anjo esculpido que tem nas mãos um círculo de pedra, no qual Flamel mandou encravar um disco de mármore negro com um filete de ouro fino em forma de cruz …» (Histoire critique de Nicolas Flanel. Paris,
Desprez, 1761). O doador Flamel e sua mulher estão representados ajoelhados.
Os pobres de Paris ficaram a dever à sua generosidade duas casas que edificou na Rue du Cimitiére de Saint Nicolas-de-Champs: a primeira em 1407, a outra em 1410. Estes imóveis apresentavam, segundo relatos posteriores, «grande quantidade de figuras gravadas nas pedras, com um «N» e um «F» góticos de cada lado».
A capela do Hospital Saint-Gervais, reconstruída a expensas suas, nada tinha que invejar às outras construções. «A fachada e o portal da nova capela, escreve Albert Poisson , eram cobertas de figuras e de legendas à maneira usual de Flanel».
O portal de Sainte-Geneviève-des-Ardents, situada na Rue de la Tixerandrie, conservou o seu interessante simbolismo até meados do século XVIII, época em que foi transformada em casa e os ornamentos destruídos.
Cimitiére des Saint-Innocents (desaparecido) |
Flamel levantou ainda duas arcadas decorativas com figuras hieroglíficas no Cimitiére des Saint-Innocents: a primeira em 1389; e a segunda em 1407. Poisson diz-nos que na primeira delas se via entre outras placas hieroglíficas, um escudo que o Adepto «parece ter imitado de outro atribuído a S. Tomás de Aquino». O célebre ocultista acrescenta que ele figura no final da «Armonie Chymique» de Lagneau. Eis, aliás, a descrição que dele nos oferece: «O escudo está dividido em quatro por uma cruz; esta tem no meio uma coroa de espinhos em quatro por uma cruz; esta tem ao meio uma coroa de espinhos encerrando, no centro, um coração sangrando de onde se eleva uma cana. Num dos quadrantes vê-se IEVE em caracteres hebraicos, no meio de uma profusão de raios luminosos, por baixo de uma nuvem negra; no segundo quadrante, uma coroa; no terceiro, a terra está coberta por uma ampla seara, e o quarto é ocupado por globos de fogo».
Esta relação, de acordo com a gravura de Lagneau,
permite-nos concluir que este fez copiar a sua imagem da arcada do Charnier.
Não há nisso nada de impossível, visto que, de quatro placas, restavam três no
tempo de Gohorry (1572?) e a «Harmonie
Chymique» foi publicada em 1601 por Claude Morel
Arca decorativa mandada fazer por Flamel no Cemitério dos Inocentes com a representação dos doadores (gravura) |
Arcadas do Cemitério dos Inocentes. |
Segundo alguns autores, a sua fortuna ficou a dever-se ao seu interesse pela aquisição imobiliária em mau estado de conservação, a qual posteriormente valorizava com obras de beneficiação e alugava. Segundo outros, o seu enriquecimento deve-se à Alquimia que praticou e "publicitou” em subtis hieróglifos com os quais foi decorando as paredes das sua propriedades hoje desaparecidas, à excepção da sua última casa que ainda subsiste no 51 da rue de Montmorency, a qual é uma das mais antigas edificações de Paris.
A Casa de NICOLAS FLAMEL
(Rue de Montemorency, Paris)
Laboratório alquímico com o respectivo Athanor. |
Paris, Casa de Nicolas Flamel. |
Paris, Casa de Nicolas Flamel (piso térreo). |
Por disposição testamentária, após a sua morte em 1418, esta casa foi legada à paróquia de Saint-Jacques com o objectivo de ser transformada em asilo para os pobres, finalidade esta que nunca foi cumprida.
Casa de N. Flamel, figuras hieroglíficas. (com um «P» de Pernelle) |
Casa de N. Flamel, figuras hieroglíficas. (com um «N» de Nicolas) |
A Tumba de NICOLAS FLAMEL
Pedra sepulcral de N. Flanel,
actualmente no Musée de Cluny. |
Esta pedra tem na parte superior uma janela onde se vê um enigmático conjunto de três personagens em busto, cada uma coroada por uma auréola e, entre elas figura o Sol Radiante e a Lua. Uma dos objectivos da alquimia é o chamado casamento alquímico entre Sol (ouro) e Lua (prata), símbolos da eterna dualidade que possibilita a criação e a vida.
A figura central ostenta na sua mão esquerda um globo crucífero que, aparentemente, tem um duplo significado: símbolo do mundo, numa leitura simplificada, ou a nível espagírico e esotérico simboliza o antimónio (alquímico), correspondente à penúltima etapa em busca da pedra filosofal (ouro alquímico).
À direita da figura central, um homem transporta uma chave, o que pode simbolizar São Pedro, ou a outro nível simbólico mais oculto símboliza a fidelidade e a discrição do Adepto da arte alquímica, abrindo caminho para o conhecimento.
À sua esquerda outro homem tem na mão uma espada e representa Saint Jacques o patrono da igreja onde foi enterrado Flanele, santo este que era considerado o sucessor cristão de Hermes Trismegistus (três vezes grande) para os alquimistas medievais.
O Saint Jacques da devoção de Flamel nada mais era do que São Tiago Maior sepultado em Santiago de Compostela (Campus Stella - Lucal de Luzes), pelo qual os alquimistas e místicos medievais tinham grande devoção. Estes demandavam o túmulo do apóstolo fazendo inúmeras paragens durante o trajecto, procurando a sabedoria guardada nos mosteiros que eram fonte inestimável de acesso e troca de conhecimento, por via do misticismo judaico e árabe que sobrevivia na Espanha daquela época.
Este tipo de mensagens ocultas também ficaram perpetuadas nos inúmeros baixos-relevos que decoram a Catedral-de-Notre-Dame-de-Paris, os quais não cabe aqui explanar. Este modo velado de transmitir conhecimentos tem por fim a sua divulgação apenas aos adeptos interessados (só eles podem levantar este véu), ocultando do público em geral um segredo que, se divulgado abertamente, iria perturbar a harmonia de qualquer sociedade...
Aqui deixamos esta história medieval para avaliação do leitor amigo, sem querermos fazer julgamentos, pois, da história e da riqueza dos povos também fazem parte estes mitos…
A ALQUIMIA
A Alquimia, baixo-relevo do grande pórtico de Notre Dame de Paris. |
A figura sentada numa cadeira, tem numa das mãos os livros da sabedoria, na outra o ceptro e apoiada no seu peito a escada que, tal como a escada de Jacob, permitirá chegar à esfera do conhecimento divino.
Que maravilha de blog! Um dos melhores que já encontrei em se tratando de qualidade das informações sobre Nicolas Flamel. Isento, imparcial... Gostaria muito de manter contato, pois soiu aficionado por este alquimista em especial. Leio e releio sua obra o tempo todo e também pesquiso na rede sobre ele. De todos os maiores objetivos que tenho na vida, um deles é decifrar seus hieróglifos e entender suas "falas"... Meu nome é Gilberto P. Azambuja e estou muito grato ao senhor, mantenedor desse blog. Muito obrigado!
ResponderEliminarObrigado pelo seu reconhecimento.
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