Capela / Balcão dos CTT, Aldeia Nova do Cabo. |
Fundão, Aldeia Nova do Cabo,
Solar dos Condes de Tondela (actual junta de freguesia) |
Aldeia Nova do Cabo
Fundão, Aldeia Nova do Cabo, Solar dos Condes de Tondela
(actual junta de freguesia)
|
Em
Aldeia de Joanes e Aldeia Nova do Cabo, desta vez, deparamo-nos com um atropelo
de mau gosto à sensibilidade estética da população, senão à religiosidade de
alguns crentes.
Referimo-nos
a um posto de correios – loja CTT – instalado na capela da antiga casa dos
Condes de Tondela (1861), a qual foi ocupada na sequência da revolução do 25 de
Abril de 1974 e é actualmente sede da respectiva Junta de Freguesia de Aldeia
Nova do Cabo.
Esta casa e
respectiva capela foi mandada edificar em 1861 por PEDRO
DE ARAGÃO DA COSTA SÁ VICTORIA (n. 1819), nascido a 18-X-1819 na Quinta da Ponte,
freguesia da Faia, concelho da Guarda, o qual veio residir em Aldeia Nova do
Cabo, Fundão, onde tinha um apreciável património fundiário por herança de seus
pais Bartolomeu de Aragão da Costa Tavares e Sá (c. 1780) e D. Maria Joana Roede
da Vitória (n. 1782), 2ª baronesa de Tondela.
Perante
a alteração de funções deste pequeno orago católico — outrora destinado à
comunicação com Deus e agora virado às profanas e rentáveis comunicações
postais —, não
ficaríamos muito surpreendidos, não fosse a permanência no seu altar-mor da imagem
de Nossa Senhora de Fátima ladeada por dois modelos de embalagens postais de caixas de cartão, à laia de querubins, numa espécie de instalação plástica surrealista digna do Teatro-Museu Dali em Figueres (Catalunha).
Tudo isto com um balcão no lugar do altar onde um funcionário atende à maneira de um celebrante da Missa "de frente para o povo", tendo à sua frente um monitor de computador. Os diversos ícones religiosos foram substituídos por inúmeras bugigangas
das que actualmente são vendidas neste tipo de lojas: tais como frascos de
compotas e mel da região, ao lado da pia de água benta de granito adossada na
parede, e uma mostra museológica de instrumentos musicais de uma antiga banda
de música desta freguesia – numa parafernália que aparenta a sua inspiração na
malícia do Daesh.
Mesmo
defronte deste solar, no outro lado da rua, a existência de duas antigas e
amplas cocheiras, permitiriam a instalação destes serviços sem atropelos de mau
gosto, e sem a profanação pagã deste orago …
Esta
visão, trouxe-nos à memória as muitas barbaridades ocorridas neste país com a
extinção das ordens religiosas após as Lutas Liberais (1834), e a Primeira
República (1910); acontecimentos estes que, aqui na Beira, levaram à alienação
de muitos pequenos templos religiosos, dos quais alguns foram demolidos, ou alienados
e convertidos em estábulos, arrumos agrícolas e adegas — dispersando e
vandalizando o seu património artístico …
♦
Aldeia de Joanes
Fundão, Aldeia de Joanes, Igreja de São Pedro. |
Já
agora, deixamos aqui uma chamada de atenção para algumas modernices, entre
muitas outras, que são um atentado ao património edificado da contígua freguesia
de Aldeia de Joanes.
A sua antiquíssima
Igreja de São Pedro (1233?), de traça ainda românica, que esteve inicialmente sobre
a alçada da Ordem do Templo, começa a testemunhar a iniciativa “modernizadora”
dos seus autarcas que, deste modo, querem deixar obra.
Uma destas é uma moderna capela mortuária, que em nossa opinião foi abusivamente edificada à ilharga desta igreja, não a respeitando pelo seu pouco distanciamento, nem pelos materiais utilizados, nem pelo cromatismo das suas paredes; o que compromete a integridade da vetusta igreja que lhe está próxima demais.
Uma destas é uma moderna capela mortuária, que em nossa opinião foi abusivamente edificada à ilharga desta igreja, não a respeitando pelo seu pouco distanciamento, nem pelos materiais utilizados, nem pelo cromatismo das suas paredes; o que compromete a integridade da vetusta igreja que lhe está próxima demais.
A este
conjunto, acrescentaram ainda uma dissonante e desproporcionada luminária
modernista, que completa o mau gosto que vai imperando no património concelhio.
Aldeia de Joanes, Igreja de São Pedro, e Capela Mortuária |
Aldeia de Joanes, Capela Mortuária. (Tem anexa uma capela mortuuária "modernista") |
O Museu Arqueológico Municipal Dr. José Monteiro, do Fundão, tem uma direcção e uma equipa técnica com sensibilidade, competência e conhecimentos, no domínio do Património e da Museologia, que é uma mais valia para acompanhamento destas pequenas obras e muito contribuiria para evitar estes equívocos...
Assim o queiram as diversas juntas de freguesia.
Aqui fica a sugestão.
João Trigueiros
Aldeia de Joanes, Igreja de São Pedro, com luminária "modernista". |
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Adenda:
UM POUCO DE TRANQUILIDADE NO DESASSOSSEGO
Jamais
questionamos a existência de uma estação de Correios em Aldeia Nova do Cabo, e
até sugerimos, em alternativa a esta, a sua instalação numa edificação
fronteira ao solar, no outro lado da rua. Para os moradores da freguesia, esta
alteração não faria a mínima diferença.
Se a
população encara com naturalidade a instalação desses serviços neste local, à
mistura com compotas, instrumentos de música, e ícones religiosos, por
iniciativa de uma junta de freguesia de um estado laico, até ficamos muito
felizes. A população local, deste modo, demonstra o seu grande sentido de humor
– que nós muito apreciamos – e o seu interesse estético pelo surrealismo… A
nosso alerta aqui expresso – ao contrário do que alguns pretendem –, nada tem
de motivação eleitoral, até porque actualmente sentimos alguma repulsa pela
política, da maneira como tem sido exercida nas últimas décadas. Neste caso,
apenas as questões estéticas e patrimoniais, por uma questão de gosto pessoal e
de formação académica, foram a nossa única motivação.
Dos
poucos políticos locais que conhecemos pessoalmente, um dos únicos é o
empenhado Dr. Paulo Fernades, presidente da C.M.F, com o qual privamos ainda
ele era um “outsider” da política. Para ele vai a nossa admiração, pelo
trabalho realizado e pela sua coragem em dar o corpo às balas na sua ingrata
tarefa. Dos presidentes de junta, não conhecemos nenhum, tampouco as suas
filiações partidárias, pelo que qualquer crítica – como a que nos foi feita
através da Rádio Renascença / Sapo – não tem a menor sustentação como motivação
política.
Nada
nos chocou – longe disso –, que a funcionalidade desta capela fosse alterada em
prol de uma população carente de serviços públicos, desde que despojada de
todos os símbolos religiosos, e pautada por algum bom-gosto – o que não é este
o caso … Daí a nossa crítica.
Mas,
como diz o Quim Barreiros na música “O Peixe”, “cada um come o que gosta” …
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