2023-12-03

Os “esfarrapados morais” e os símbolos nacionais.

 

Bandeira da Carbonária

A propósito do novo logótipo do governo sobre a bandeira nacional, implementado em Julho de 2023, este assemelha-se mais à bandeira do Mali do que à bandeira de Portugal. Deste novo grafismo consta um retângulo vertical verde, um enorme círculo amarelo, um quadrado encarnado, e terá custado mais de 70 mil euros.

 

Logo do governo português

Projetos de bandeiras republicanas
A BANDEIRA PORTUGUESA em uso, resultou da seleção feita pela Comissão da Bandeira (criada a 15-out.-1910), após a implantação da República. Esta teve que escolher entre 28 projetos, qual deles o pior, pois o bom senso e bom gosto parece não ter bafejado os destacados republicanos que se dividiram em dois grupos: o da manutenção da bandeira bicolor com as cores azul/branco, mantendo a tradição; e o das cores verde/rubra, pretensamente progressista, que na realidade, tal como a esfera armilar e o escudo das quinas, mais não são do que um decalque iniludível da bandeira da Carbonária (o braço armado dos republicanos), ignomínia esta aos símbolos nacionais que toda a gente parece querer esconder ou ignorar…

Apesar de algumas bandeiras azul/branca de design aceitável, a escolha não foi pacífica e, longe da perfeição estética, deixou-se prevalecer o mau gosto e o insulto à tradição…

Imagine, o leitor, duas pessoas vestidas: uma com um terno verde e calça vermelha; a outra de terno azul e calça branca. Deste exemplo, muito simples, infira o mau gosto!


Bandeira portuguesa.
O grande poeta Fernando Pessoa, escreveu, e com razão:

«“O regime [republicano] está, na verdade, expresso naquele ignóbil trapo que, imposto por uma reduzidíssima minoria de esfarrapados morais, nos serve de bandeira nacional — trapo contrário à heráldica e à estética, porque duas cores se justapõem sem intervenção de um metal e porque é a mais feia coisa que se pode inventar em cor. Está ali contudo a alma do republicano português — o encarnado do sangue que derramaram e fizeram derramar, o verde da erva de que, por direito mental, devem alimentar-se.”» (citado de Nuno Borrego, investigador e genealogista)

Bandeira da Presidência da República
(com o campo "verde erva")

No Palácio de Belém, outrora da Casa Real, desfralda-se agora a bandeira da Presidência da República sempre que o mais alto magistrado da nação lá está. Esta, curiosamente, apresenta um campo "verde erva" que, segundo Fernando Pessoa, "por direito mental, [com ele] devem alimentar-se" os republicanos...  

Tudo isto, porque andam por aí umas sebosas avantesmas a por em questão as insígnias nacionais, e a querer reformula-las, aos quais queremos lembrar que uma substituição deste símbolo maior só se for pela bandeira azul e branca da tradição, á qual, por hipótese admitiríamos a retirada da esfera armilar (por já não termos um império colonial), assim como a respectiva coroa real (por já não sermos um regime monárquico).

            

                            JT


2023-09-10

Eurico Brilhante Dias, "O Patusco"

EURICO BRILHANTE DIAS (n. 1972),
Presidente do Grupo Parlamentar
 do partido socialista.


O patusco camarada Eurico Brilhante Dias, que para os lados de São Bento pastoreia uma numerosa seita de crédulos, faz-nos lembrar um daqueles tenebrosos familiares da Inquisição que outrora, eivados de fanatismo, zelavam pela "pureza" do ideário cristão.

Este brilhante desvairado, versão higienizada do inenarrável dr. Ferro Rodrigues, pretende entregar à purificação pelo fogo os heréticos blasfemos que acompanham o Dr. Ventura nas suas “perversas” práticas anti-socialistas… Jamais aceitará que os citados hereges, a reclamar autos-de-fé para sua redenção, repudiem os sagrados textos emanados do Largo dos Ratos…, assim como questionem a lei fundamental que os escora no poder e serve de lastro à sua voragem insaciável de salafrários.  
   
Vai mais longe, o cabouqueiro, na arte de arruinar este pobre país, pois, a cada frase que profere, insulta os apoiantes do Dr. Ventura de serem de extrema-direita, fascistas, antidemocráticos (porque de insultos se tratam) e de outras qualificações rasteiras, como rasteira é a sua cultura política.
À semelhança de muitos dos seus pares, ignorantes da história e da ciência política, esquecem os ensinamentos do investigador Riccardo Marchi *, especialista nas direitas radicais portuguesas, que constata no caso vertente, não serem os militantes deste partido de extrema-direita, e muito menos fascistas, como se propagam os ideólogos acéfalos do bardo do Largo dos Ratos…

Intolerante perante um partido – CHEGA – que ele reputa ser uma ameaça para a democracia e a causa da crise do credo socialista; em vez dos seus actos nocivos, os quais aliciam o apoio de muitos notórios patifes – alguns de saias – que alvitram a ilegalização deste partido da verdadeira Direita portuguesa.
Pela palavra, instiga as suas hostes a disparar para todos os lados, e quase prescreve autos-de-fé contra aquilo que o ignorante, insistentemente, chama de extrema-direita.
Porém, não se dá conta, o irresponsável patusco Eurico, que o alegado compadrio, a corrupção, a perseguição com as suas “linhas vermelhas” numa interminável caça às bruxas que apoia a ilegalização do CHEGA, numa argumentação falsa e mentirosa; não passam de aleivosias viscosas para apascentar o seu ludibriado rebanho que um dia destes acordará do seu torpor …
 
Caro Brilhante Dias, todas as malfeitorias do seu bando, já nos causaram três bancarrotas e são os únicos responsáveis pelo estado a que este país chegou.
Daí o opróbrio que a população lhe vota.
Daí a fuga de muitos socialistas honestos para as fileiras do CHEGA, por aí se sentirem emporcalhados.
Desculpe-me a franqueza. Tome juízo e seja honesto, pois, se há algum partido que merece ser ilegalizado é o seu, com ex-deputados e governantes com cadastro, e outros a caminho do mesmo…
 ____________
  

Riccardo Marchi (n. 1974, Pádua) - professor convidado do ISCTE-IUL e coordenador, para Portugal, da rede académica transnacional "Direitas, História e Memória". Averba no seu currículo 2 licenciaturas e 1 doutoramento.

·        «Ideias e percursos das direitas portuguesas.» (2014 Texto Editores).

·        «As direitas na democracia portuguesa: origens, percursos, mudanças e novos desafios» (2016).

·        «A direita nunca existiu: as direitas parlamentares na institucionalização da democracia portuguesa (1976-1980)», 2017 ICS - Imprensa de Ciências Sociais.

·        «A nova direita anti-sistema em Portugal: o caso do Chega», Junho 2020, Edições 70

 

https://www.youtube.com/watch?v=baaqkOTDsNg

https://www.youtube.com/watch?v=Nx8BSNQkhoM

https://www.youtube.com/watch?v=2r0Z0IPNIrw

https://www.youtube.com/watch?v=KtUiRwFF3IU

https://www.youtube.com/watch?v=At2MYUlgONA

 

 


2023-09-03

A ANGÚSTIA CLIMÁTICA, ou a idiotice em roda livre.

 


Já agora, caríssima psicóloga ELIZABETH MARKS, explique-nos as suas iluminadas propostas para combater as “cíclicas” alterações climáticas que se sucedem há milhões de anos e alteraram a superfície da Terra em diferentes fases de seu processo de desenvolvimento. Parece querer ignorar, ou ignora mesmo, que a superfície do nosso planeta é dinâmica e, ao longo de milhões de anos, a nossa atmosfera passou por diversas transformações climáticas e geológicas que afectaram diversas espécies (fauna e flora), só sobrevivendo as que se foram adaptando.
As alterações climáticas não se combatem. Elas apenas requerem, acima de tudo, que a humanidade se adapte às novas condições, caso queira sobreviver…
Há quatro ou cinco mil anos, no Mediterrânio Oriental, cidades inteiras desapareceram por abandono dos seus habitantes devido a secas de proporções bíblicas, o mesmo acontecendo na Mesopotâmia, assim como há muitos milhares de anos florestas inteiras transformaram-se em desertos, e vice-versa, tudo isto documentado geologicamente e por vestígios arqueológicos.
É do conhecimento científico, mas ignorado por si e pelos corifeus que a acompanham neste embuste, que as alterações climatéricas, em grande parte ficaram a dever-se às variações orbitais – ou ciclo de Milankovitch – que ocorrem periodicamente, fazendo a radiação solar chegar de forma diferente em cada hemisfério terrestre de tempos em tempos com maior ou menor amplitude.
Por causa destas variações orbitais (impossíveis de combater), assim como devido a violentas erupções vulcânicas e outras causas (queda de asteróides, etc.), já sofremos um número infindável de gravosas alterações climáticas que terão sido responsáveis por várias extinções em massa (6 delas nos últimos 400 milhões de anos) que levaram ao desaparecimento completo de várias espécies; inúmeras glaciações com duração de milhares de anos; e alterações do nível da água do mar devido à fusão dos glaciares e do gelo da Antárctica, associados ao aumento do volume das águas por expansão térmica.
Caríssima Elizabeth Marks, registe aí, para o seu cabal esclarecimento, que o último período glacial terminou há cerca de 15 mil anos, ao qual sucede o actual interglacial, caracterizado por um efeito de estufa, para o qual as actividades humanas dão apenas um pequeníssimo contributo residual. Nos últimos 650 mil anos, houve em média sete ciclos de avanço e recuo glacial, com os consequentes períodos de aquecimento global, no qual estamos e irá perdurar provavelmente por “mais de cinquenta mil anos” (Berger A, Loutre MF (2002), «An exceptionally long interglacial ahead?» [Uma Frente Interglacial Excepcionalmente Longa?], Sciense, 23-08-2002, Vol 297, Edição 5585, págs. 1287-1288).
Mais ainda.
Sugerimos à citada psicóloga, arregimentada por quem quer implantar o medo entre a população com vista à prossecução dos seus inconfessáveis objectivos de dominação ideológica, que não enrede na sua teia de mentiras os jovens que estão a ser alienados pelo exemplo de uma jovem sueca aloprada, à qual, uma série de adultos imbecis dão crédito. Tudo isto sob o beneplácito daquele inoperante e moribundo “albergue espanhol” a que dão o nome de ONU…

2023-06-01

O Pintor ARNALDO BENAVENTE FERREIRA (1923-2000)

 
Arnaldo Benavente Ferreira (1923-2000)

ARNALDO BENAVENTE FERREIRA (1923-2000) foi um dos grandes pintores da temática lisboeta, com o qual me cruzei muitas vezes na segunda metade da década de 70, e passo aqui a evocar.

Estes fugazes encontros, ocorreram muitas vezes ao cair da tarde quando eu descia o Chiado em direcção à estação do metro do Rossio, depois de terminar as aulas na Escola Superior de Belas Artes que então frequentava.

Artista incompreendido, tinha uma compleição seca e elegante que destoava dos repetidos insultos que vociferava de "São todos uns patifes! Calões! Canalhas! Biltres! ", quando caminhava pela rua ou entrava nos cafés e livrarias do Chiado – dirigidos não se sabe a quem!... 

Embora se avente que estes impropérios, que assustavam quem não o conhecia, eram endereçados a quem “dava menos valor à cultura do que a tudo o resto”, eu, na minha fantasia, talvez fruto da recente mudança de regime, imaginava-os dirigidos aos fautores da Nova República que então despontava, ainda sem tantos “calões” e “patifes” como o futuro demonstrou, e ele terá vislumbrado… Esta mudança de regime, ter-lhe-á frustrado encomendas entre os apoiantes do anterior sistema, devido à falta de meios e à sua queda em desgraça. Daí a sua revolta e o seu visceral desagrado, segundo eu presumia…

Por esta altura, era vê-lo desfilar Chiado acima, num passo miudinho e apressado, com os seus sapatos de verniz reluzentes, o cabelo repuxado para trás com brilhantina que lhe emoldurava um semblante grave e pálido, numa elegância “retro” com o seu fato preto ou cinzento escuro, colarinho de goma de uma alvura inexcedível, preferencialmente de gravata branca, lenço branco e um obrigatório grande cravo da mesma cor na lapela.

Foi este seu ar peculiar, por vezes com um bouquet de cravos brancos na mão, que o levou a ser alcunhado de “o sempre noivo”, “o noivo eterno” ou o “pintor da noite”.

A sua figura singular, melancólica como ele próprio se definia, avesso a todo o convívio, quase sempre com um chapéu de feltro na mão e muitas vezes com um quadro ou uma pasta com esquissos debaixo do braço, não deixava ninguém indiferente. Os surtos de agressividade verbal sem destinatário conhecido, assim como o seu isolamento social, aliado à temática sombria da sua obra sobre Lisboa nocturna sempre vazia da presença humana, parecem indiciar uma provável perturbação da personalidade que, ainda que ligeira, se foi agravando com o avançar da idade.

Arnaldo Benavente Ferreira
(1923-2000)
A imaginação popular, devido ao seu estilo formal de se paramentar, romantizou-lhe a existência, atribuindo-lhe um hipotético abandono pela noiva no dia da boda, ou a sua morte inesperada antes do casamento, o que o teria levado a esta hipotética loucura… Numa das raras entrevistas que deu â RTP (25-08-1973, “Um dia com… Arnaldo Ferreira”), desmentiu esta legendária narrativa, acrescentando que este seu modo de se apresentar, apenas tinha a pretensão de “trajar com decência”.

Nasceu numa família de parcos recursos, no típico bairro da Graça, a mais alta colina de Lisboa; um bairro com alma e belíssimos miradouros que terão contribuído para lhe aguçar a sensibilidade. Ao certo, sabemos ter residido na Rua da Verónica à Graça, e dizia-se que, mais tarde, veio habitar perto Elevador da Bica/Calçada do Combro, o que justificaria a sua frequente presença no Chiado, facto este que carece de confirmação como muitas outras lendas que sobre ele efabularam. No Chiado frequentava amiúde a Livraria Bertrand e a Pastelaria Bénard, então dois dos ícones da elite intelectual e da burguesia lisboeta.

Estudou na Escola Artística António Arroio e na Escola Industrial Afonso Domingos, esta última uma referência do ensino técnico profissional que privilegiava o ensino do desenho elementar de arquitectura e de máquinas, tal como o de pintura decorativa, e era conhecida pela “Universidade de Xabregas”, tal a qualidade do seu ensino na primeira metade de Novecentos. Nestes dois estabelecimentos de educação, não concluiu os estudos, pois começou a trabalhar cedo em empregos mal remunerados que lhe cerceavam a ambição de ser pintor.

Trabalhou como desenhador de joalharia, até que, a seu pedido foi orientado pela artista plástica MARIA ADELAIDE LIMA CRUZ (1908-1985) e abraçou definitivamente a sua vocação de artista. Esta sua mentora e vizinha, pela qual Arnaldo Ferreira demonstrava uma dívida de gratidão, residia na Rua da Graça do mesmo bairro, e descendia de uma família ligada às artes plásticas e á música. Foi discípula do notável pintor Carlos Reis (1863-1940), além de bolseira em Paris durante um ano (1934), tendo dispersado a sua criatividade artística como pintora, cenógrafa, figurinista e cartoonista, assim como professora de alguns aspirantes a artista.

ARNALDO FERREIRA, segundo consta, embora gostando da noite como tema da sua singular obra pictórica, raramente deambulava pela vida nocturna da capital, só o fazendo para vender alguns dos seus quadros, pois achava que os boémios lisboetas que nela vagueavam saberiam apreciar a sua obra. Dele se dizia que, recolhido a casa, pintava freneticamente pela noite fora até altas horas, e sobrevivia deste seu labor, ao qual juntava algumas exposições individuais e colectivas.

Marginalizado pelos académicos bem-pensantes, quiça devido á sua falta de sociabilidade e de escola, e ao facto de não fazer parte do grupo de pintores do modernismo português, não lhe era dado o valor que merecia. 

Solitário, mas com muita determinação, com o seu pincel captava com alguma maestria os claros-escuros nocturnos, numa visão onde as sombras pontuadas pela luz que fluía das janelas e dos candeeiros transmitiam a realidade sorumbática que distinguia os bairros típicos de Alfama, Mouraria, Bairro Alto e das diversas zonas ribeirinhas.

ARNALDO FERREIRA pintou mais de mil pequenos quadros, a óleo ou a pastel, que estão espalhados por todo o país e estrangeiro em colecções particulares e públicas, entre elas a Câmara Municipal de Lisboa e o Museu da Cidade.

Morreu a 15-XI-2000 tendo recebido algumas homenagens póstumas, tais como a atribuição do seu nome a uma rua do Lumiar, em Lisboa (15-XII-2003), assim como a um largo na vila ribatejana de Benavente. A Câmara Municipal de Lisboa, atribuiu-lhe ainda a Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro (21-IX-2005), pela dedicação de toda uma vida artística à cidade de Lisboa.

Nós, estudantes de Bela Artes, ao vê-lo passar na Rua Garrett sentíamos uma espécie de admiração secreta por este “outsider” do meio artístico; tanto pela incompreensão a que era votado pela sociedade, como pelo desprezo hostil com que este retribuía. 

O seu grande foco era a realização da sua obra plástica sobre a cidade amada perdidamente. Nada mais lhe interessava e, por isso, parece-nos que, à sua maneira, passou por este mundo oscilando entre a loucura dramática de um Van Gogh e a excentricidade feérica de um Salvador Dali.   

Por tudo isso, e para que não caia no esquecimento, aqui lhe prestamos o nosso tributo e respeito.


João Trigueiros









Eng. VALDEMAR CALDEIRA (1941-2019)

Eng. Valdemar Caldeira (1941-2019)

Este herói anónimo, já falecido (Abril-2019), por opção sua dispensou as futilidades e os fogos-fátuos de uma vulgar existência, dando-nos uma lição de grandeza e de carácter.

O seu exemplo foi um safanão que nos torna a todos mais pequenos perante a sua lição de vida.

O engenheiro químico Valdemar Caldeira, antigo e efémero professor da Universidade de Coimbra, cidade onde residiu e onde era admirado com respeito por quem o conhecia, senhor de uma invulgar sabedoria e sensibilidade, era natural do concelho de Montemor-o-Velho. Rejeitando as vaidades deste mundo, dedicou a sua fortuna aos pobres dando quase tudo o que tinha aos mais carenciados, vivendo humildemente como um eremita dos tempos modernos. Marginalizou-se e viveu com condições mínimas de sobrevivência e já com assomos de demência que lhe abreviou a existência.

Filho de uma família abastada com origem na Carapinheira, rejeitou a reforma do Estado e dava explicações gratuitas de Matemática aos alunos.

Solidário, modesto sem falsidade, a ostentação e a vaidade não faziam parte do seu universo cristalino que estava mais próximo da simplicidade do “Poverello de Assis”.

Felizmente que, num universo com muita gente supérflua, ainda encontramos seres assim. A sua grandeza, mesmo tocada pela loucura, serviu de exemplo à salvação de uma humanidade perdida que apenas valoriza as aparências sem conteúdo, a imposturice sem lastro e o efémero…

Pago aqui o meu tributo à nobreza deste ser inigualável que se foi libertando de tudo o que o prendia a este mundo que rejeitava e, tal como o Ícaro da mitologia grega, na sua ânsia de voar, acabou por soçobrar – talvez no Paraíso, pois era um crente fervoroso…

Tudo o que é grande foge da praça pública e da fama”, como ensinou Frederico Nietzsche.

 

João Trigueiros

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Testemunho:

«Há vidas assim...

Prescindiu da fortuna que os pais lhe deixaram para ajudar os outros.

Um sem-abrigo que ensina alunos da Faculdade a custo zero.

Uma celebridade que merecia honras de Estado.

Cansado de lidar com gente que se faz passar por aquilo que não é, depois de ver as igrejas cheias de pecadores e os cemitérios com tanta gente nobre, partilho este exemplo de mais um dos meus heróis anónimos.

Este Senhor que para muitos é um sem-abrigo, é um homem nobre. Professor Universitário aposentado, licenciado em Engenharia com distinção, co-autor de livros de matemática e engenharia, prescinde da sua confortável reforma para ajudar os que precisam mais do que ele. Não tocou na fortuna que herdou dos pais e não usa o carro topo de gama que o pai lhe ofereceu.

Na sua humilde casa ou em locais públicos, ensina os jovens universitários e outros estudantes que o procuram sem nunca cobrar um cêntimo.

Vive com o indispensável para sobreviver e recusa ajudas porque é um "homem rico" e tem a vida que escolheu.

O engenheiro Valdemar Caldeira não vai gostar, não lhe digam nada... O Engenheiro Caldeira não tem Facebook, nem computador, nem telemóvel.

Mas tem tempo, esperança e solidariedade para dar a quem precisa.

Que lição de vida!»

(Créditos: Joaquim Alhinho)


2023-05-11

Os "TANTO FAZ" desta vida

 


Os «TANTO FAZ» desta vida,
decidem o nosso destino e entregam os nossos países
nas mãos de alegados bandos de corruptos e criminosos.


 Recebi este assertivo texto das mãos de alguém que me autorizou à sua divulgação:

«Na época das eleições perguntei ao entregador de água em quem iria votar? 

Ele respondeu-me: TANTO FAZ!!! 

Eu, um pouco assustada, questionei-o de forma leve: Você poderia explicar-me? 

Ele respondeu. É simples, na minha condição miserável de ser, TANTO FAZ, nenhum candidato vai mudar minha vida, continuarei a ser miserável e pobre… 

Eu, então, tentei fazer uma desconstrução de sua vida para que reflectisse melhor.

Ele, virou-se pra mim e disse: acabamos de sair do governo do Bolsonaro e continuo pobre, terminando por dizer o que o seu Pai disse a Ele sobre a política, “nada vai mudar para nós... O que existe pior do que já está? Filho, coloque na sua cabeça o TANTO FAZ !!!”

Então, eu vi tão claro nos olhos dele a sua incapacidade e nem continuei a minha argumentação.

São como animais somando as estatísticas da pobreza, da qual nem sequer esboçam a sua libertação… 

Tal como o gado, ficam no curral esperando o abate… TANTO FAZ!!! TANTO FAZ!!!

Isto é o retrato da classe oprimida e manipulada pela mídia militante e corrupta, que já nem consegue encontrar o final do túnel! Ficam no TANTO FAZ! Já nem entendem que se a inflação subir o preço dos alimentos também vão subir e eles serão os primeiros a sofrer as consequências. Não entendem nada!... para eles TANTO FAZ!…»


Nota: 

Este texto foi-me enviado por uma advogada, representante da Lei e da Ordem do Brasil, que me autorizou a sua divulgação, pedindo o anonimato como é óbvio, atendendo às circunstâncias.

Aqui fica o testemunho do caminho que o Brasil está a seguir, com a anuência irresponsável desta gente e a lucrativa conivência de muitos outros, rumando a um trágico destino como já aconteceu com a Venezuela, Argentina, Colômbia, Peru, etc. etc. 

Portugal, um dos países mais pobres e corruptos da União Europeia (dados estatísticos da EU), por via dos seus “TANTO FAZ”, vai pelo mesmo caminho.


2022-12-26

Recorrentes abatimentos do pavimento da Baixa Pombalina, em Lisboa – Dezembro de 2022


Lisboa, Baixa Pombalina, Rua da Prata.
Dezembro, 2022


Perante mais um de muitos destes acidentes, o presidente da Junta de Freguesia local disse que este é “O SEGUNDO ABATIMENTO DAS PAREDES DO CANAL MUITO PROVAVELMENTE DEVIDO ÀS CHUVAS”.

Um vereador, responsável do município lisboeta (CML), declarou ser esta ocorrência uma "CONSEQUÊNCIA DO TEMPORAL QUE SE SENTIU EM LISBOA NOS ÚLTIMOS DIAS", acrescentando que o problema estaria no “ABATIMENTO DAS PAREDES DO CANAL PROVAVELMETE DEVIDO ÀS CHUVAS”.

Por sorte não argumentaram com a fabulação das famigeradas alterações climáticas, com as quais vão justificando os sucessivos desastres ocasionados por várias decisões erráticas e irresponsáveis da CML nos últimos cinquenta anos…

Estacaria Pombalina (a descoberto)
Sucede que as origens destes contratempos – aluimentos sucessivos dos pavimentos da Baixa Pombalina –, têm origem no começo do apodrecimento da estacaria de pinho verde que foi cravada nos terrenos de aluvião, e dos aterros aí feitos para recuperar para a construção civil este antigo esteio do rio Tejo.  Outrora aí vinham desaguar várias ribeiras que, entretanto, foram encanadas.

Para evitar o apodrecimento da citada estacaria que foi cravada após o terramoto de 1755, em conjugação com o criptopórtico aí existente para sustentação de construções romanas, esta necessita de estar constantemente impregnada de água, o que deixou de acontecer devido à mudança das rotas de circulação das águas superficiais e subterrâneas por acção da descuidada e incompetente intervenção humana.

A estacaria que serve de suporte às edificações, sem água e em contacto com o oxigénio do ar por via de diversos fungos começa a apodrecer. Este fenómeno ainda recente só agora começa a causar estragos, os quais, a perpetuarem-se no tempo, serão irrecuperáveis.

Tudo isto é do conhecimento de grande parte dos profissionais dedicados à causa da conservação do património aí edificado: tais como geólogos, hidrologistas, urbanistas e arquitectos com sensibilidade para as causas destes episódios recorrentes…

Sobre este tipo de adversidades há um punhado de estudos técnicos e trabalhos académicos conhecidos, os quais os políticos aparentam ignorar – ou escondem –, sem irem ao âmago do problema para a sua resolução. Dão-nos algumas explicações ingénuas – abatimento do canalchuvas abundantesalterações climáticas, etc. – e continuam a assobiar para o lado até às próximas eleições, pois, travar a degradação da Baixa é uma operação de longo prazo, muito onerosa, a qual vai contra poderosos interesses privados.

Em resumo: não dá votos!… 

A alteração do sistema hídrico desta parte da cidade de Lisboa, em grande parte assenta na alteração do fluxo das ESCORRÊNCIAS (do subsolo) e na falta das INFILTRAÇÕES (de superfície), dois processos distintos que impedem o apodrecimento da madeira verde submersa.

Estas ESCORRÊNCIAS (do subsolo) e INFILTRAÇÕES (de superfície), concorrem para a estabilização do frágil terreno de aluvião e conservam a estacaria, a qual vê agora o seu futuro seriamente comprometido pela obstaculização criada por gigantescas estruturas subterrâneas, assim como pela impermeabilização das artérias de circulação. Tudo isto faz baixar o lençol freático, deixando parte das estacas a descoberto da água, a qual é tomada por fungos que promovem o seu apodrecimento. 

As causas da ruína em que os pavimentos da Baixa se encontram, são por demais conhecidas de qualquer observador descomprometido e atento.

Vejamos:

1º. — As ESCORRÊNCIAS necessárias a nível do subsolo da área da Baixa Pombalina, e ao seu redor, foram desviadas pelas alterações/edificações feitas pela acção humana nas últimas 5 ou 6 décadas, as quais interromperam os fluxos de água subterrânea, sem os prévios estudos hidrológicos, comportando graves consequências para a estabilidade do solo.

Falamos dos diversos sistemas de canalizações e de tubagens para diversos fins (água, esgotos, instalações eléctricas, gás, telecomunicações, etc.); das caves aprofundadas para garagens; de edifícios edificados com pisos muito abaixo da cota soleira como é o caso dos centros comerciais da Mouraria e do Martim Moniz; dos gigantescos parques de estacionamento subterrâneo com diversos pisos que provocaram o afundamento da camada freática. Destes últimos salientamos os parques da Praça da Figueira, do Martim Moniz e da Praça dos Restauradores, assim como da Praça do Município, Baixa-Chiado, Chão do Loureiro, Praça Luís de Camões, Campo Mártires da Pátria, etc.

A responsabilidade política deste descalabro, iniciou-se no governo do primeiro-ministro António Guterres (1995-1999), então coadjuvado entre ouros pelos seu inenarrável companheiro de partido que foi José Sócrates seu ministro-adjunto (1995-1999), e por António Costa seu ministro da justiça (1999-2002), o qual viria a ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa (2007-2015). A gestão da autarquia de Lisboa ficou então sob a presidência de JOÃO SOARES (PS) entre 1995-2001, o responsável político pela azáfama construtiva promovida por esta autarquia.

Por este presidente da CML foi atribuído ao vereador ANTÓNIO MACHADO RODRIGUES (PS) o pelouro do Transito e Infra-estruturas Viárias, o qual durante apenas 6 (seis) anos do seu mandato com plenos poderes tomou a iniciativa de construir nada menos de 16 (dezasseis) parques de estacionamento subterrâneo entre 1995 e 2001!.

Não foi em vão que esta apressada orgia de parques subterrâneos com vários pisos – dos quais estamos agora a sofrer as consequências –, foi concluída; não só com danos irreversíveis para o valioso conjunto histórico e patrimonial da baixa pombalina, promovendo o desvio dos cursos subterrâneos das escorrências de água que alimentavam com a sua humidade a estacaria, deste modo promovendo o início do seu apodrecimento.

Não devemos confundir todo este sistema de humidificação do solo de aluvião com os caneiros pombalinos, os quais apenas visam a condução da água das diversas ribeiras encanadas vindas da Av. da Liberdade e da Av. Almirante Reis para o rio Tejo. O colapso de alguns troços destas últimas condutas, ficou a dever-se à retracção do aluvião onde assentam, devido à falta da humidade.

É sabido, como a imprensa então divulgou, que o edil António Machado Rodrigues (PS), um engenheiro especializado em circulação e transportes que foi o responsável técnico por estes alegados atentados, tinha ligações indirectas às empresas de estacionamento privado da capital – primeiro a Gisparques, depois a Emparque – através do seu chefe de gabinete, de dois assessores da CML, e ainda de um cunhado: tudo isto envolto numa teia de interesses nebulosos que foi denunciada na comunicação social, apesar de negados pelos próprios, aos quais o Ministério Público parece que nunca ter prestado a devida atenção, apesar das denuncias feitas publicamente (Cerejo, José António, «Assessores e Amigos de Vereador do Trânsito Ligados ao Negócio do Estacionamento», jornal Público, 4 de Dezembro de 2001; https://www.publico.pt/2001/12/04/jornal/assessores-e-amigos-de-vereador-do-transito-ligados-ao-negocio-do-estacionamento-164984; https://www.jornaldapraceta.pt/mrodr2.htm).


2.º — Quanto às INFILTRAÇÕES de água necessárias à preservação da estacaria, na ausência de parte importante das escorrências de água subterrânea, estas eram um dos meios que restavam de humidificação da madeira aí colocada pelo Marquês de Pombal para compactar o terreno e suportar as edificações da Baixa com as suas gaiolas anti-sísmicas de madeira.

Porém, estas imprescindíveis infiltrações foram interrompidas pela errada impermeabilização asfáltica das vias de circulação, com a substituição da tradicional calçada portuguesa em granito por asfalto betuminoso. É urgente reverter esta mudança do piso para os anteriores paralelos de granito, os quais, apesar de causarem alguns constrangimentos para a comodidade da circulação automóvel, permitem a impregnação do subsolo com a humidade necessária à conservação da estacaria, preservando da ruína um bem maior que é o conjunto patrimonial da Baixa Pombalina.
 

3.º — A estocada final no equilíbrio hidrológico desta zona da cidade, foi-lhe dada por volta do ano de 1998, aquando da construção dos tuneis do metropolitano (entre a estações da Baixa-Chiado/Santa Apolónia e Baixa-Chiado/Cais do Sodré), com a implantação do imenso volume de betão da estação do Terreiro do Paço, por necessidades técnicas em razão da sua proximidade da água do Tejo.

Esta imensa estrutura que corre paralela ao rio, mais uma vez inviabiliza a penetração/circulação da água deste curso de água pelo subsolo da baixa lisboeta, privando deste modo a estacaria da Baixa de uma das suas mais importantes fontes de humidificação que a partir desta data agravou o problema dos abatimentos do pavimento da Baixa.  

 

Lisboa seiscentista,
sem a actual pressão urbanística ribeirinha.

As causas aqui enunciadas, contribuíram para o afundamento do nível freático, o qual deixa ciclicamente parte da estacaria a descoberto, principalmente nos períodos de secas mais severas e são a causa do início do apodrecimento da estacaria com a consequente falta de resistência para suportar, quer a carga do transito automóvel, quer das construções que sustenta, as quais por vezes são aumentadas de novos pisos e a longo prazo vão começar a soçobrar.

As perniciosas alterações do subsolo, teriam sido facilmente evitadas com a construção de silos de estacionamento em altura aproveitando alguns prédios degradados deste centro histórico, mantendo as suas fachadas de origem e edificando vários pisos no seu interior, possivelmente com menores encargos financeiros…

Os ambientalmente danosos parques subterrâneos, ficaram envoltos em polémica desde a sua origem, mas ninguém teve a coragem de travar, geraram alguma conflitualidade que em alguns casos acabou dirimida judicialmente. Pela pressa da sua edificação, causarem a perda irremediável de valioso património arqueológico que só residualmente foi recuperado.

É este o país que temos, nas mãos de dirigentes incompetentes e entregues a interesses inconfessáveis. Agora, para justificarem a sua inépcia e acobertarem as suas decisões alegadamente venais, atiram-nos à cara com a fábula das alterações climáticas…

Perante tudo isto, durmam bem se puderem…

 

João Trigueiros