Por Fialho de Almeida (1857-1911), in “Os Gatos” (1889-1894).
«Miando pouco, arranhando sempre, e não
temendo nunca.»
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«GOSTO DO PARLAMENTO COMO GOSTO DE
TOIROS, para me estontear um instante na mancha ondeante das cabeças, nos
burburinhos de entrada e de saída, e finalmente, no investir do primeiro bicho.
Mas vai que dez minutos volvidos, já
todo o espectáculo se me tem repintado nítido, na retina; e destruída a ilusão
panorâmica da cena, o que resta são TRISTES FIGURINHAS QUASE GEBAS, garbosas
sem nobreza, audazes por simples dever profissional, e tão reumáticas, tão
nulas, que, mesmo sob costumes de gala, se me afiguram votadas a uma vala de
desdém precoce, e de misericordioso esquecimento.
PASMA-SE COM O EFEITO DA CHUSMA DE
IDIOTAS, QUE LÁ EM BAIXO GRASNAM, À MISTURA COM VELHOS ABORRECIDOS, COM
ESTADISTAS MANCOS; e quase faz pena ver agitarem-se inutilmente, entre o rir de
uns, os apartes doutos, a saída destes, e as costas voltadas daqueles, duas
figuras ou três, de revoltados.
A fatalidade quer que o meu país, ao
aproximar-se a hora derradeira, tenha a assisti-lo A COMUNIDADE DO PIOR QUE AS
GERAÇÕES TÊM PRODUZIDO. Não há escritor falhado, não há filho de conselheiro
hidrocéfalo, não há ricaço pândego, traficante odiento, cínico velho, bacharel
vadio, amanuense inútil, que ao fazer autópsia de si mesmo, reconhecendo-se
falho, não tenha apelado para este HOSPÍCIO DE S. BENTO, ONDE NÃO TER CABEÇA
RENDE TRÊS MIL RÉIS POR DIA, SOBRE A VANTAGEM DE SE NÃO IR PRESO, E DE SE PODER
ARRANJAR, ÀS TENÇAS DA ELEIÇÃO, PARA O RESTO DA VIDA, UMA CHUCHADEIRA
BUROCRÁTICA.
Oh, Santo Deus, que tipos! ANTIGAMENTE
METIAM-SE OS MICROSÉFALOS NOS ASILOS. (…) O ESTADO GALARDOA A ESTUPIDEZ POR
FORMA A IMPÔ-LA COMO TALENTO, E A EXALTÁ-LA COMO VIRDUDE CÍVICA RARÍSSIMA.»
Fialho de Almeida, «Os Gatos
(1889-1894)»
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Nota:
Mais de um século depois, continua tudo na mesma…
Se então não conseguiram calar o jornalista e escritor Fialho de Almeida, muito menos vão agora conseguir silenciar um grupo parlamentar que combate esta cáfila…
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