2010-04-21

Cabeça de Velho - Convento de Cristo, Tomar


Tomar, Janela do Convento de Cristo.
Tomar, Janela do Convento de Cristo.
Pormenor / Cabeça de Velho.


























CABEÇA DE VELHO ENCIMADA POR UMA RAIZ
Janela do Convento de Cristo em Tomar

(1160-1515)

Esplêndida figura de velho que perscruta e interroga o observador, desafiando-o para a resolução do arcano que ele próprio propõe...
A alegoria hermética “sustentada” por este velho filósofo, vergado sob o peso de uma raiz (parte enterrada – ou oculta – de qualquer coisa!), sugere a leitura cabalística desta mensagem. 

Na “Ave Regina” a Virgem é chamada Raiz (Salve Radix) para marcar que ela é o princípio e o começo de tudo: “Salve, raiz, pela qual a Luz brilhou sobre o mundo” — ou “Deus Vos salve, raiz e porta por onde veio a luz ao mundo” —, oração muito popular datada de 1050 da autoria de Hermannus Contractus (1013-1054), monge beneditino da Abadia de Reichenau (ilha do Lago Constança).

As várias ramificações da raiz – sete – nada mais são do que os sete graus do conhecimento iniciático, e as sete virtudes (Caridade, Esperança, Fé, Força, Justiça, Prudência, Temperança). 

Não deixes que a cegueira te atinja face ao enigma proposto pela Janela de Tomar, alegoria da passagem – através dela – para o Conhecimento …

Foram os Templários – transfigurados na Ordem de Cristo – que a edificaram.
São eles os guardiães do arcano para atingir o conhecimento absoluto – a Luz. 

  Decifra o enigma aqui proposto…
  Se conseguires ! …


                        Tomar, Convento de Cristo.

                                João Trigueiros


  

Tomar, Convento de Cristo.




Chant of the Templars - Salve Regina:

https://www.youtube.com/watch?v=IoSuyUFiEYo







2010-04-13

Pátria

No sangue que nos flui
secretamente
do coração
está a força que nos une
a um povo
disperso
e longe desta pátria

Aqui estamos pois
neste desgosto
ao leme
do rumo certo
que te liberta enfim
querida Pátria.


J.T. - 23-Abr-73

Rumo

Avançar cada vez mais
sem hesitações.
Comunicar a todos a verdade
que se esconde.
Dizer não às traições
vencer barreiras.

Sonhar!
Sonhar num amanhã:
Livre
       sem guerras
               sem fronteiras ...


J.T. - 22-Abr-73



na minha esperança clandestina
houve sonhos esmagados num isntante
e lábios
súbito oxidados
na beleza do silêncio vigilante.


teci na teia dos meus sonhos
o teu corpo
de subtil espuma
inventado na confusão dos beijos
logo desfeito
           como se fosse bruma...


J.T. - 10-Maio-1973

2010-04-10

Fémina

Sonho o abismo
que transponho
no teu olhar
suave
como a chuva
a ponte
linguagem surda que tu ouves:
                                        o voo.

No sonho invento
as tuas mãos
que beijo
nas minhas mãos de nada.


J.T. - 10-ABR.-75

Epopeia

Nesta ilha
de silêncio
faço da minha voz
a quilha
que corta
esse mar imenso.

Imergido dos mitos
deste sono
secular
íntimo da indiferença
e do abismo
deste mar.

E nele esta marinha
trágica epopeia
de nautas férreos
a construir na areia
sonhos
e Impérios.

Pobres anfíbios
neste oceano
especulando
a fé
a troco de quimeras
e bancos de coral.

E as marés
sucedem-se
a medo
na geografia insular
deste silêncio
         que é degredo...

J.T. - OUT.-73

Retratos


Pasmo
na paz de pranto
à força imposta
no sono obstinado
desta gente
qual carneirada mansa
ao matadouro conduzida ...

Que venal toga esta
já puída
na busca
de parágrafos com fugas
às leis
expressas nos artigos.

Que indecorosa cátedra
e arqueológicos processos
de avaliar
inteligência a metro
no gesto obsoleto
de recitar sebentas
e tretas...

Que literatos estes
compondo ócios
em prosa e verso
e disputando
a dente
a glória
de conquistar um osso.

Que sotainas
sorrateiras
especulando a morte
na elegância
da retórica
rendoso investimento
nesta ignorância…

Políticos
venais
chupando o úbere
do tesouro
sugando-nos o sangue
esbulhando tudo
delapidando o ouro … …

J.T. - JUN-73

Misses e Mitos


No palco
o gado bamboleia
as ancas
e o nojo
na aridez das formas
poliglotas.

É medido a palmos
e o cio
dos aprumos
saboreado
no mole gosto
da língua salivando.

Em loucas cortesias
tomam-lhe o peso
ponderam-lhe o bojo
e a carne
na fraude consumada
de uma sesta.

Comparam-lhe os cascos
a implantação do ventre
as formas
de animais paridos
e duvidosos
na aridez dos tempos.

Da geografia das tetas
a litro avaliada
aprende-se o caminho
como quem tacteia
num violino
as tretas dos acordes.

O júri ocioso
tecido numa teia
mastiga bem de leve
suspira mais que nunca
e patenteia
a pequenez do cérebro.

Elege a misse
a rainha
e no mundo
a deita
durante um ano

para que fique prenhe !


J.T. - 3-MAIO-73

Terra que Habito



Pedaço desprezível de matéria
feita de mitos e de metas
por deuses e homens
bem urdidos
em incestuosos coitos
de imorais ascetas.

Pobre planeta …
Espécie de repelente bojo
onde pelas paredes
escorre o nojo
e se consome
na tela cómica de qualquer truão.


J.T. - 29-ABR.-73


Epitáfio para Pierre Ovreney (1948-1972)


















Violentaram-te
a alma
por não a teres vendido.

Trespassaram-te
o corpo
de balas.

Mas não sabem
que a verdade
não odeia
não tem medo
nem recua:

Paris inteiro
         chorou-te pela rua …


J.T. - 5-JUN.-72


Maio

No tronco
ressequido
a seiva elaborada
num fragor
brota
e rasga
o corpo que a contém.
Avança impetuosa
a tudo acode
no curso do seu rumo
renova a vida
e torna leda
ferida nova
aberta há pouco
na natureza.

É Maio que chega !

 

J.T. - 6-DEZ.-71

Fascínio

Eis o meu mundo:
Letras que jogam
e formam
palavras.
Frases que rimam,
ou não,
mas dizem
onde são fecundas.

Eis o meu mundo:
versos ao acaso
com o fascínio misturados
para uso da verdade
no domínio inseguro
do dia que desponta
no medo
que lavra …


J.T. - 6-DEZ.-71

2010-04-09

Interrogação


                                Apenas vácuo
                                onde um vagido ou grito,
                                seja em bemol ou sustenido
                                não encontra eco.

                                E neste grão
                                de lama e cisco
                                só esta náusea à minha volta
                                traz a suspeita
                                que eu existo
                                que existe vida.

                                E para lá de tudo isto !



                                            J.T. -1-JUN-70



Maio de 68


Bastões em riste
esmagam pela força
a força da razão
do povo revoltado
e triste.

Bastões em riste
opõem à miséria
a violência
e à sede de justiça
a injustiça.

Bastões em riste
correm pela cidade
dispersando a multidão
cujo rosto macilento e triste
traz marcado pelo tempo
a sede de liberdade
a que chamamam:
subversão.

Anti-Raça / 10 de Junho

ELES chamam-te
- A RAÇA …

Eu chamar-te-ei
- Desgraça
da raça
que outrora foi
nesses batéis
e barcaças
com guizos
trapos
trapaças
e outras terras conquistaram
por serem das infra-raças …

Não acredito
em chalaças
e espero
muito em breve
apesar das vossas teses
deixar na sanita
a Raça
à mistura com as fezes.


J.T.
10-JUN.-62

Razão de Ser

           
              Poesia

     A poesia, forma superior de apropriação da realidade, deve conduzir à transformação da humanidade e não apenas ao seu deleite estético. É muitas vezes na sua vulgaridade aparente que encontramos a força para superar a angústia, o desespero, a constante luta pela sobrevivência do próprio homem e da verdade, tantas vezes abafada pelo ritual da guerra.
 A Poesia é a transmutação da lama e das lágrimas em baionetas de aço que desafiam, desesperadamente, o sangue que circula nas nossas próprias veias. Ela testemunha os homens e as épocas, não vive entre paredes nem está agrilhoada a pútridas masmorras …
    A poesia é livre, denuncia e transforma-se em mensagem.
    Quotidianamente ...